24/06/2008

CAPÍTULO 1 - Chocolate e Manjar


Elas se conheceram e foi se não um incêndio uma chama, uma fagulha,uma faísca. Vamos chamar uma de chocolate e a outra de manjar. Chocolate era um corpo que apenas servia de suporte pra uma cabeça. Não se podia ao certo dizer em que mundo vivia. Nunca escolheu seus amores levando em consideração o tipo físico, de todo um corpo somente enxergava o rosto, os olhos e a voz. Esses eram seus pré-requisitos. De manjar nada se pode dizer, ela não tinha uma passado tão claro. Quem me conta a história é Chocolate. Esta é uma história em flash back como se fosse uma apresentação num tribunal. Sim, teremos um culpado e um inocente ou talvez todos culpados, o mundo é uma versão macro do carandiru, que deus o tenha!

Chocolate foi a uma cartomante indicada por uma colega de trabalho, depois de sair do serviço a meia-noite, enfiou-se numa boate na Barra e como de costume dançou até a hora de ir embora. Roupa molhada grudada no corpo, cabeça ligeiramente tonta, se enfia num 755 e volta pra casa. Não dorme, toma banho e vai pra cartomante agendada pela amiga, na Rua da Abolição. O que dseja saber? Nem ela sabe. A vida anda chata e ela idem. A cartomante tem um filho autista que se recusa a usar roupas, segundo a mãe ele rechaça todo e qualquer estranho e ainda segundo ela, estranho é quelaquer um que não seja ele mesmo e sua mãe. No entanto,interage com chocolate.Os dosi se dão bem e chocolate tem uma visão: dois pés empoeirados, calçando sandálias antigas como as que usavam os gladiadores romanos. Uma poeira fina e amarelada e barulho de ropel de cavalos. Sim, uma visão com sonoplastia. Quem sabe ecos da noite mal dormida e muio bem dançada?

A cartomante não lamenta muito em informar que chocolate está um horror. Eneria em baixa, aparencia descuidada, protetores, guias, orixás, anjos da guarda, todos em falta, carentes, abandonados e abandonando-a: Não arrajará nenhum namorado até que organize essa extrema bagunça de auto-estima e espirito atormentado!

Do outro lado da mesa, chocolate franze a testa, junta as sombrancelhas e lamenta pela cartomante, mas não é assim que se sente. Puxa tinha caprichado tanto no visual que pelas observações da cartomante estariam se assemelhando a trapos e farrapos. Chocolate gostava de fazer umas mistura meio loucas no visual, esta feliz com seu jeans agarradinho, camiseta de alça e por cima disso tudo uma especie de colete de veus finos e tingidos de muitas cores em degrade. Uma peça meio indescritivel, comprada na barraca de uma cigana na Praça VV. Esta um pouco abatida sim, mas provavelmente pela noite mal dormida, porem muito bem dançada! Não se sentia infeliz e se estava infeliz, não havia se dado conta. Toca o celular, chocolate atende. Sua amiga preta e esporrenta aos berros no meio de uma batucada lhe chama: -"Vem pra cá, escuta só!" e se ouvia uma zuada que tanto poderia ser uma feira, como uma festa ou ainda a 3ª guerra mundial.
-"Ouviu? Vem pra cá! O pagode tá bom pra c...alho"
-ahn, não posso falar agora, to numa parada aqui... É que eu esqueci de desligar... Pede desculpas a cartomante, a amiga e desliga o pretensioso 1º modelo motorola movie star amigo. Era o ano de 1999, mes de janeiro.

Saiu do ap da cartomante com uma certa ressaca que não sentiu na saída da boate algumas horas antes.Algo não fazia sentido. Ela não fazia o menor sentido. Chocolate era assim, se importava com bem poucas grandes coisas e criava altos casos com coisinhas de nada. Fazia sol e ela agora sabia que morreria sozinha se dependesse da aquela cartomante. De fundamental ela tinha tido uma visão de pés antigos empoeirados e de sandálias e o menino autista, com defeito nos pés e nhuma roupa tinha sorrido pra ela e ela lhe feito muito carinho. A rua estava confusa e barulhenta e chococalte lembrouse da amiga, do telefone e ligou:
-Oi, preta! Que que foi?
-"Vem pra cá porra! É aniversario do meu irmão, o churrasco tá no ponto e o pagode ta animado!"
-Vou não. Tô com sono
-Ca...lho, você trabalha pra caralho e não quer vir amoçar com a gente, se divertir? Koé!
-tá bom vou pensando no onibus.

Não tinha vontade de pensar. Não sabia onde passava o ônibus. Chocolate era assim: lugares barulhentos e desconhecidos a deixavam confusa ou talvez um pouco mais confusa do que o habitual. Não gostava de tumulto, tinha um certo receio de multidão, mas pior de tudo, não tinha memória ne senso de localização. Precisava ir muitas vezes em lugar até que aprendesse com segurança o momento certo de puxar a capainha do ônibus e pra voltar precisava de muitas visitas até que dispensasse a banca do jornaleiro na qual pedia informação.

Não pense mal de chocolate, ela é a heroína da história, longe de possuir algum tipo de retardo mental, ela era inteligente e perspicaz, só tinha um mundo particular e não dominava o idioma local...

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